sexta-feira, 27 de maio de 2016

E tive medo de sair sozinha

Eu nunca fui de ter medo de andar sozinha.


Sempre fui sozinha pra tudo quanto é canto. 
Viajar é comigo mesmo - e meu lindo e querido mochilão, companhia vitalícia. Dirigir, então...! Voltava tranquila de madrugada do trabalho, não importava quão longe fosse. Sempre tranquila, mesmo que planejando as minhas ações caso acontecesse alguma coisa - o espírito escoteiro me preparou para isso, e qualquer situação sempre me pareceu válida de atenção, comigo ou com o outro.
Mas algo em mim nos últimos dias vinha martelando na minha cabeça, de maneira indireta. De que eu precisava me preparar mais. Precisava estar mais equipada.
Estar preparada pro que eu pudesse vir a enfrentar.
Preparando minha viagem, fui comprar uma mochila e, quando vi, no carrinho já tinha também um apito de emergência, todos os acessórios coloridos e bem chamativos e a vontade insistente de comprar uma luz de sinalização.
Hoje o medo bateu. E foi de ser mulher, andando sozinha.

Texto escrito por Fernanda Mattos e publicado em sua página no facebook, em 27/05/2016, sobre o estupro coletivo ocorrido nesta semana no Rio de Janeiro.


quarta-feira, 27 de abril de 2016

Congresso dos Bichos




Continuando sua caminhada pela estrada, de cabeça baixa, sentindo as dores do fim de seu dia, acabando a jornada de trabalho após carregar quilos e quilos de pedra morro a cima, toca o sinal da fábrica e o Jumento pode por 15 minutos recostar se em uma árvore para descansar.
                Solta o saco de pedras no chão, acende um cigarro, e pensa empolgado com a manifestação que irá participar, domingo na avenida Paulista.
                Aproxima se o segurança da fábrica para puxar assunto, não está em sua pausa para o café, mas um pouco de conversa ainda pode puxar, desde que os donos não estejam vendo.
                -Au, au, boa tarde Patrão.
                -Deixa disso cachorro, não sou seu patrão – Disse o Jumento.
                -Sempre as ordens. Dia cansativo?
                -Como sempre.
                -Mas já está acabando, se anime – retruca o segurança cão.
                -Acaba não, amanhã tem mais. O que me anima é poder tirar essa presidAnta do governo e poder colocar meu país de volta nos trilhos.
                - Ah, vai na manifestação?
                - Vou sim, o congresso vai votar uma mudança na constituição, é o único jeito de mudar o Brasil.
                - E será que muda? Entra e sai governo continua a mesma coisa.
                -Muda sim, mudando a constituição, vamos tirar a Anta e acabar com a corrupção.
                -Mas quem assume não é o vice, o Porco? Ouvi dizer que agora andam somente nas patas traseiras.
                -Eu acho que é. Se pudesse andaria só nas patas traseiras também. Vamos com a gente? O Cavalo ta pensando em ir comigo.
                O sinal da fábrica toca novamente e o Jumento joga o cigarro que ainda não terminou no chão, e torna a subir o morro com o saco de pedras nas costas.
                Fim do dia, no metrô de volta pra casa o Jumento encontra se com a Galinha.
                - Boa noite dona Galinha.
                -Bo, bo, boa noite.
                -Como anda a produção de ovos?
                -Cada dia mais fraca, e a cada dia meus ovos valem menos, e as contas sobem mais.
                - Mas isso é culpa da Anta.
                -A presidente?
                -Sim.
-É paca, não é Anta.
- Que seja, mas não gosto dela.
- E tem que gostar? Ela não é um personagem do Big Brother, ou da novela. Está lá a trabalho, está trabalhando, ou vai dizer que você é no seu trabalho, como é em casa com os amigos?
                -Claro que não – protesta o Jumento –Quem é que é. Mas torço logo pra ela sair, entrar o Porco e derrubarmos ele também, FORA CORRUPTOS!!!
                - E quem vai tirar o Porco? Se ele se aliou aos Lobos, e tem a maioria do congresso, não tem voto suficiente pra tirar ele.
                - Ah Dona Galinha, me desculpe, mas a gente dá um jeito.
                - E acredita nessa mudança do texto da constituição? E vão gritar para todos ouvirem: Fora Anta, Fora Porco, Fora Lobo?
                - Não sei o que vão gritar, sei que acredito na constituição e que está escrito:

Todos somos iguais perante a lei.

            - Boa sorte então, domingo.
                -Obrigado.

E no domingo, em uma sessão extraordinária todo o congresso dos bichos se reúne, pois são um exemplo a serem seguidos, e estão trabalhando para o melhor do bem comum, e do futuro da nação.
Muita discussão, falatório, a Águia após seu discurso foi ovacionada até pela Minhoca. A Cobra quando votou, não segurou sua língua, e atingiu a coitada da ovelha com um pouco de veneno. A Doninha se colocou como exemplo a ser seguido, votou e correu para o armário se esconder. Os Porcos votaram juntos, e ganharam um uivo bem forte da bancada dos Lobos. O Sr. Bode estava sozinho, demorou a chegar no microfone e enquanto falava seu discurso, cuspia em todos na sua frente. O macaco chegou com um cacho novo de bananas, importadas do Caribe. O cachorro perdeu sua hora de votar, porque ficou correndo atrás da Gata, que terminou o dia pendurada no lustre. A Ema acabou comendo o microfone, pela empolgação do momento, sorte que a Girafa, que é médica estava com sua maleta e estetoscópio e pode puxar de volta o microfone para encerrar a votação, quem não gostou foi a Foca, que teve que secar o microfone babado.
                Fim de sessão todos muito animados com o novo texto da constituição e o futuro do país.

Todos somos iguais, mas alguns são mais iguais que outros.


Na Paulista o Jumento e seus amigos terminam o dia felizes e cantando.
- Auau au, Iaia ó, miau miau miau, cocoró có.
O Animal é tão bacana, mas também não é nenhum banana.
- Auau au, Iaia ó, miau miau miau, cocoró có.
Quando a porca torce o rabo, pode ser o diabo, olha vejam só.
-Auauau, cocoró có.
-Era uma vez
-É ainda
-Certo país
-É ainda
- Onde os animais eram tratados como bestas.

-São ainda, são ainda.


sexta-feira, 11 de março de 2016

Estudar Música

Primeiros passos para estudar música





Muitas pessoas gostam de música e tem interesse em aprofundar-se neste artesanato. Hoje temos várias fontes de informação disponíveis como livros, revistinhas, vídeos na internet, amigos, além do tradicional professor de música.
Escolher instrumento é o primeiro passo, não há músico que só leia livros, e é aconselhável escolher um pela paixão mesmo, afinal você ficará horas debruçado sobre ele, não se intimide pela dificuldade inicial, claro que disposição e espaço físico muitas vezes contam, se você mora em apartamento fica difícil tocar uma harpa ou uma bateria.
Se você contenta-se apenas em arranhar um violão, guitarra ou teclado, muitas vezes um amigo ou vídeo aulas são suficientes para saciar sua curiosidade, mas para quem busca um contato mais intimo e direto, e não quer sofrer tanto sozinho, o bom mesmo é procurar um professor.
Apesar do estudo de música estar associado ao lazer e entretenimento, há dois tipos de pessoas que buscam o ensino em escolas. Um que quer apenas se divertir, e outro que busca aprofundar seus conhecimentos e possivelmente se tornar um profissional na área.
Com o decorrer do curso ambos encontram a principal barreira nos tempos atuais, o tempo. Para se estudar um instrumento, seja ele o violão, piano, voz, bateria ou qualquer outro, necessita-se desenvolver a coordenação motora, a parte mecânica funcional digamos assim. E só há um jeito para isso, prática e muita repetição.
Precisa-se de tempo para praticar, tempo diário. E este não é um problema apenas de adultos que dividem sua vida pessoal com o trabalho, as crianças muitas vezes fazem um a dois cursos extracurriculares por dia, ou pela imaturidade não sabem dividir seu tempo entre deveres e lazer.
Mas há quem se dedique e consiga estudar, não às 8 horas de piano que Mozart estudava! E logo encontra muito material disponível e precisa organizar sua atenção.
Há quatro pilares importantes no estudo de música:
A parte prática do instrumento, aonde se se encontra e desenvolve sozinho as técnicas específicas, como arpejos, vibratos, fraseado, etc...
A parte em conjunto, como tocar numa banda ou orquestra. Músico que não consegue tocar bem em conjunto é como um jogador de futebol que só sabe chutar pênaltis.
A parte teórica, pois é preciso saber ler diversas formas de linguagem, como partituras, cifras, partituras gráficas, manosolfa, etc... para encontrar diversas fontes de informação. Quando estamos iniciando os estudos às partituras e cifras são um desafio a ser cumprido, depois que dominamos a leitura, elas são apenas o ponto de partida.
E a última e tão importante quanto às outras é ouvir música e adquirir repertório, deve-se ouvir de tudo e buscar sempre novas fontes de informação e inspiração.


Puplicado em abluesados.blogspot.com em 31/05/2012 por Thiago Rabay



terça-feira, 8 de março de 2016

Crise dos 27

Crise dos 27 anos (da Magna Carta de 88)



Apesar de ter iniciado os meus vinte e sete anos nessa existência há uns sete meses atrás aproximadamente, foram há exatos vinte e dois dias que desencadeou se. Tudo começou com a verbalização de apenas três palavras. Essas três palavras provocaram vinte e sete anos de pensamentos, emoções e atitudes passadas, juntamente com seus ecos presentes e futuros.

Cada ideologia, seja revolucionária ou retrógada, cada pessoa, seja popular ou marginalizada, cada lugar, em que estive presente ou ausente. Tudo se materializou de forma triangular. A ponta de cima estava conectada à minha mente, a da esquerda ao meu corpo e a da direita a minha alma, respectivamente.

Uma pirâmide gigante formou se a partir da conexão de centenas de outros triângulos menores. Cada qual com suas histórias, lutas e glórias. Eram ideologias humanas, políticas, tolas e sábias, representadas cada qual por seus anjos e demônios. Expressavam se em ideias que conhecia e desconhecia.

Em português (“Lula é levado por meio de condução coercitiva para depor na Polícia Federal”), inglês (“it is better to live one day as a lion than 100 years as a sheep”), em ‘juridiquês´’ (“são os poderes da União, independentes entre si, no entanto harmoniosos, o Legislativo, O executivo e o Judiciário.”), de cozinha (“cadê a porra da merenda!?”), de produção (“caralho como faço esse evento dentro desse orçamento? Fudeu!”), de xadrez (“xeque...”), de pôquer (“blefe”), entre outras.

Tudo se comunicava comigo, em conjunto e em encontros isolados. Em clichês conservadores e progressistas, cores vermelhas e azuis, músicas do lobão e do caetano. No limite do consciente e inconsciente (sendo a vida desperta e os sonhos lúcidos).

Cada parte desse processo, cada qual, provocou uma emoção. Do amor ao ódio, da coragem à covardia e da alegria à tristeza. Cada emoção se apresentava juntamente com um interlocutor sendo alguém conhecido, respeitável ou odiável.

Discursavam, eram verdadeiros e falsos, eram anjos e demônios.

E tudo continuou se apresentando nessa dualidade e dentro da estrutura triangular. O grande triângulo, que imagino ser os vinte e sete anos da Constituição Federal Brasileira de 1988, conectou se a outros grandes triângulos que eram modelos menos humanos  (passado) e modelos ainda mais humanos (futuro) e ainda todos os outros caminhos que não tomamos ( vide o Gato de Schrödinger), por sorte ou azar. Esse “prisma” cósmico, penetrou minha identidade brasileira de forma indelével, dilacerando tudo que fomos, somos e podemos ser em outros tantos triângulos menores e todos se relacionavam.

Cada parte desse processo caminhou ao meu lado e através. Alimentou se junto e de mim. Acordou e sonhou comigo.

Tudo isso rolando e eu ainda precisava ir trabalhar pela manhã, dar bom dia e ser um bom cidadão.
Essa “bomba atômica” tomou nosso ser - acredito que SOMOS UM. Tudo que fomos, somos e podemos ser expostos, em três vertentes, dialogando com cada parte da minha mente, corpo e espírito. Materializados em triângulos infinitos de toda sorte de cores, sons e sabores.

A noite cai em Embu Terra das Artes e a escuridão traz novos triângulos, esses corrompidos por quadrados. Um quarto poder!

- Que merda de mídia!                                                

- Será que sempre agirão assim? A Globo? Os istas? Os ismos? Será que vamos viver/morrer assim?

Tive certeza de que íamos, que íamos seguir os caminhos deles, e um “tsunami” de pensamentos dominavam minha mente:

- “ Não. Deixa essa merda prá lá! Anula seu voto e desencana de debater ”
- “ Não. Não posso ceder à essas forças malignas! ”
-“ Sim! Não desista! Se envolva e lute se preciso. ”

Essas e outras tantas ideias de cada parte desse processo, juntamente com sua materialização em triângulos, corrompidos por quadrados, cada qual conectado, de forma deturpada, à cada expressão do jeitinho brasileiro.

De cada acerto, de cada erro, de cada terra mal distribuída, de cada preconceito, de cada carnaval, de cada partida de futebol, de cada ato machista, de cada crença, de cada ilusão, criação, de cada morte e vida que propiciamos em terras tupiniquins. Reflexões inexoráveis nesse atual momento.

Todos os fins, meios e começos. Com suas dores e sabores.

Droga! Eu ainda tenho que acordar amanhã cedo, ir trabalhar, dar bom dia e ser um bom eleitor.

As pessoas e entidades que dialogavam comigo, trouxeram à tona, com todo seu poder, nossos vícios, “pecados” e “bênçãos” que havíamos consumido/consumado. Me encontravam nas timelines alheias, na TV, na conversa de boteco, no ponto de ônibus, na cama, à mesa...
Merda! Eu ainda tenho que acordar amanhã cedo, ir trabalhar, dar bom dia e ser um cara produtivo.

No vigésimo segundo dia - se é que é possível dividir o tempo dessa forma, Einstein mesmo descontrói essa ideia com a teoria da relatividade do tempo e espaço – troquei umas palavras com uma das entidades que se manifestavam. Era uma negra. Nua e linda, como a noite.

Dessa troca pude entender que realmente somos um povo heroico, mas que apenas com igualdade poderemos gozar no futuro, em raios fúlgidos, o sol da liberdade.

Que o futuro pode ser um sonho intenso, de amor e esperança, mas apenas se formos gigantes por natureza.

Que de amor eterno possamos viver, desde que não fujamos à luta e tão pouco temermos a própria morte.

Ainda estamos aqui.

SOMOS UM.

Em crise.



Escrito por Estevão Martins. (06/03/2016)



domingo, 14 de fevereiro de 2016

Chico Fala




Chico fala...


Apesar de você pensar o oposto, ainda é possível acreditar no ser humano,

investir nas relações.

Durante o período de eleições (Putz, mais uma vez vão falar das eleições?!

Mais do que isso.) foi nítida a percepção de como as diferentes formas de pensar

influenciam no mundo das relações. Ele, que já não é fácil, torna-se mais sensível,

delicado e, ao mesmo tempo, agressivo; não venha discordar de mim! Ou melhor,

pode discordar, mas me convencer...


Penso que é importante “sacudir” as amizades, as rodas nos bares, o

taxista, o cobrador, o garçom... Deixar a pulga atrás da orelha faz pensar. Pensar é

crescer.


Afinal, a banda precisa mudar a música, não é mais possível tocar o mesmo

som. Observe. Essa moça tá diferente e precisa ser vista assim. Jovens, muitos

jovens envolvidos, lutando, trabalhando, estudando. Muitos jovens sacudindo as

relações, muitos jovens “diferentes”.


João e Maria também mudaram. Agora, eles podem frequentar o Ensino

Superior. O cotidiano mudou; tem bicicletas na rua!

Vai trabalhar, vagabundo! Vagabundo? Ah! Verdade, sou nordestino.

Não, simplesmente não aceito. Não aceito as palavras, imagens,

comportamentos infantis, preconceituosos, desprezíveis que vi durante essas

eleições. Não tolero a falta de respeito, não tolero a falta de argumentos...  A gota

d’água foi ver nas redes sociais o que vi.


Esse ser humano que se julga tão inteligente, diferenciado, esperto, não

consegue olhar nos olhos. A roda das relações é viva. Logo, passível de mudanças,

interferências; pode ser repensada, “ressignificada”, mas tem que andar para

frente.


Em meio à crise de água, quem tem poço a vende! Galera, estamos falando

de água... Água é vida, ela é nossa, de todos nós. Compartilhe água, sempre. Ela

tem que ser corrente, tem que seguir o ciclo.


O que será que vai acontecer?  Como será daqui em diante?

Eu, Beatriz, não sou capaz de responder. Mas sei que com muitas mãos

conseguiremos construir e fazer o que quisermos. Sei que, se o ser humano se

olhar, melhora. Somos todos iguais (lá vem ela com frases feitas- talvez você

pense agora), mas somos mesmos. Carne, ossos, órgãos, todos vão ao banheiro,

todos querem sexo, todos querem mais. Nesse mundo das relações, o que faz a

diferença é a união. Pode pensar diferente, isso é bom também, discutir é outro

passo para crescer, evoluir.

Vamos pensar, sentir e fazer! É um conjunto... Nessa construção cada um

precisa colocar um tijolo.


Um pedaço de mim espero deixar aqui. Que tenha um seu também.

Que todos possam refletir. Josés, Antônios, Carlos, Maurícios, Patrícios,

principalmente, as mulheres – não apenas as de Atenas – os amigos, colegas,

amantes, futuros amantes... TODOS. Vai trocando em miúdos por ai...

Relações não são fáceis, mas são deliciosas. O ser humano não vive sozinho,

precisa de grupo, desde sempre. Então, relacione-se! Olhe nos olhos, abrace

apertado, discuta, converse, ouça, fale, ouça mais uma vez...  Esse mundão é

nosso! É pra todos. Façamos dele um lugar melhor.

O meu pai era paulista

Meu avô, pernambucano

O meu bisavô, mineiro

Meu tataravô, baiano

Meu maestro soberano

Foi Antonio Brasileiro...


https://www.youtube.com/watch?v=eEXwfAzRR1I


Músicas citadas (e indicadas!): Apesar de você /A banda/Essa moça ta

diferente/João e Maria/Cotidiano/Vai trabalhar vagabundo/Gota d’água/Roda

viva/Corrente/O que será/Beatriz/Construção/Pedaço de mim/Mulheres de

Atenas/Futuros Amantes/Trocando em miúdos/Pra todos

Chico Buarque




Escrito por Beatriz Verturinelli

sábado, 13 de fevereiro de 2016

R.G. versus Identidade





Muito sábio foi o homem que afirmou: “...quem se isola morre lentamente, quem se abre às

pessoas e à novas experiências, conhece a si mesmo gradualmente...”.

Tem aqueles que demoram uma vida inteira para se encontrarem, outros que descobrem a

cada dia um novo EU.

Ao mesmo passo, por vezes horas depois do primeiro grito de liberdade, recebemos, do

sistema instaurado, um número, um R.G., uma identidade.

Antes de mim, já “sabem” quem sou e durante minha vida toda serei pautado por isso. Tomam

me como um mero número, uma estatística. Os serviços que me devem, seguem a lógica. Eles

acham que me conhecem.

Estendo às ciências, perenes tentativas de me acompanhar, de me entender e prover.

Mas prover o que para um número?

Se ainda dividissem... constante mesmo é a subtração, a soma, é negada.

(...) choro.

E o próprio ato denota minha humanidade, minha real identidade.

Sou aquele que almeja o sol todos os dias, promete a Lua à mulher amada e vê esperança no

verde.

Sou aquele que se iguala à você na hora da dor e do amor.

Posso ser só mais um, no entanto, o potencial é de UM em um milhão.

Prazer, Estevão.





 por Estevão Martins em 15/01/2013


Cagando pra atual fase da música brasileira




Por conta de trabalhos com bandas de evento, essa semana fui obrigado (sim, obrigado) a ouvir algumas músicas desse tal "sertanejo universitário", que de sertanejo não tem absolutamente nada.

Antes de escrever o que achei das músicas, gostaria de deixar bem claro que não julgo quem gosta e vive esse estilo de vida; tampouco coloco em xeque suas capacidades intelectuais.

Bom, vamos lá. Quando criança, no início da década de 90, meus pais ouviam muita música sertaneja, principalmente as músicas de duplas famosas como Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Gian e Giovanni e todas essas duplas que fizeram parte do movimento que o Lulu Santos acertadamente definiu como a trilha sonora da era Collor. As gravações tinham um arranjo simples, uma qualidade de som horrível, vozes esganiçadas e as letras tinham uma temática piegas de dor de corno, beirando a inocência. Essa música já se afastara há muito tempo da verdadeira música sertaneja de raiz da época em que, mesmo cantada com extrema simplicidade e sotaque caipira arrastado, as canções tinham muito mais a dizer.

Aí fui eu lá ouvir as músicas dessa nova safra de duplas e cantores como thaeme e Thiago, Lucas lucco, Gustavo lima e afins. A primeira coisa que me chama a atenção é a qualidade das gravações, com uma qualidade sonora perfeita, geralmente mixadas nos melhores estúdios do mundo. Os arranjos intrincados chegam a lembrar o saudoso rock progressivo dos anos 70, executados por músicos de primeira. Inclusive esse é um ponto muito importante a ser discutido. Os melhores músicos desse país estão hoje tocando esse tipo de música. Conheço pessoalmente vários deles e posso garantir que 99% podem até estar satisfeitos financeiramente, mas constrangidos com o principal ponto que desejo atingir, a temática das letras.
Que horror...
A inocência e a dor de corno deram lugar à uma temática recorrente em todas as músicas que fui obrigado (sim, obrigado) à ouvir, a vingança! As pessoas se divertem hoje na balada comemorando e exaltando a vingança! Separei alguns poucos trechos para vocês que não estão acostumados a ouvir esse tipo de música entenderem melhor o que estou dizendo.
Vai Vendo

Lucas Lucco
"Você achou que eu ia sofrer
Mas eu tinha meu plano b
Sabe de nada, a minha agenda tava disfarçada!
Lugar de homem era mulher, restaurante era cabaré
Sabe de nada, foi enganada!"
Aí que dó
Thaeme e Thiago
"Foi se aventurar e agora ficou só, ai que dó, ai que dó Eu tô aqui festando e você na pior, ai que dó, ai que dó Se hoje vive chorando lembrando de nós ai que dó Ai que dó o que? Eu quero ver você sofrer!"
E por aí vai e só piora. Sei não. A impressão que tenho é que éramos melhores quando éramos apenas ruins.
Esse é apenas um desabafo de um musicozinho de bosta que vai acabar de escrever esse texto e sentar a bunda na frente do rádio pra tirar música ruim dos outros pra sobreviver, com a leve impressão de que poderia estar fazendo algo melhor.
Ah...e se um dia eu sofrer de dor de corno, que eu não pratique a vingança.
Alguma providência deve ser tomada e rápido.



Escrito por Rafael Stanguini, em 12/02/2016